segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Jornalismo econômico-literário

Jornalismo econômico-literário? Isso existe? Se não, vai aí uma tentativa de criá-lo...

(Se a janela estiver muito pequena para ler, clique no link do título "Parábola Friedmaniana" abaixo e leia direto no site do Scribd).

Parábola Friedmaniana

sábado, 18 de outubro de 2008

Oi e tchau!


Fila em Bauru para desbloqueio de celular: devagar


Sábado de uma tarde de outubro com muito sol em Bauru. No centro da cidade, no chamado calçadão da (rua) Batista de Carvalho, muitas pessoas aguardavam numa fila enorme. Havia gente de todas as idades, desde grupos de garotas adolescentes que falavam o tempo todo até senhoras com sorrisos de avós, além de pais com ar sério carregando filhos pequenos inquietos com o calor.

Animados pela publicidade veiculada por uma operadora na televisão, vieram desbloquear seus telefones celulares, ou seja, fazer com que funcionassem com qualquer operadora, não apenas aquela da qual o haviam comprado. O desbloqueio seria feito gratuitamente no posto montado para este fim em um veículo ao lado das Casas Pernambucanas. Algumas pessoas já aguardavam na fila por mais de três horas.

A organização para atender tanta gente era precária. A maioria aguardava diretamente sob o sol. Na hora do almoço, não houve revezamento de técnicos responsáveis pelo desbloqueio dos celulares no veículo da operadora. Os funcionários foram almoçar e o trabalho simplesmente parou por mais de meia hora. Algumas senhas foram distribuídas, mas não o suficiente para todos. Na verdade, não o suficiente para sequer metade dos que esperavam na fila. E, após as 15h, os formulários que os interessados deviam preencher também acabaram, complicando ainda mais o atendimento.

Para completar, promotoras passavam ao longo da fila de vez em quando para informar uma novidade que muitos dos candidatos ao desbloqueio dos celulares só ficavam sabendo depois de passar um bom tempo em pé no calor da tarde: nem todos os modelos de telefone podiam ser desbloqueados. Algumas pessoas trouxeram dois, três, até quatro celulares para desbloquear de uma vez. De uma jovam que levara três, só um seria desbloqueado.

Pergunto a uma das promotoras o motivo de haver somente um local para atendimento de tanta gente. Ela diz que os técnicos que fazem o desbloqueio têm de cobrir toda a região, ou seja, também as cidades próximas. Proponho uma entrevista, questiono se, dada a publicidade que foi feita e o interesse despertado nas pessoas, não seria o caso colocar mais postos de atendimento. Ela diz que nem ela nem os outros funcionários no local estavam autorizados a falar.

Mas com quem eu poderia falar então? Com algum diretor ou supervisor, diz ela. Mas onde eu poderia achá-los? Difícil encontrá-los, retruca a moça. Eles não ficam apenas em um lugar, ficam rodando pelos pontos de venda. Mas então com quem falar sobre a demora para o atendimento de desbloqueio? Argumenta ela que não há nem o que reclamar, afinal o desbloqueio não é uma obrigação da operadora, é feito apenas para ajudar o cliente. A obrigação seria da operadora onde o celular foi comprado.

Até aí tudo bem, a operadora em questão não tinha mesmo a obrigação de fazer o desbloqueio. Mas ela apresentou-se ao mercado paulista insistindo na idéia de que seria diferente das demais e que estaria preocupada em simplificar a vida do cliente, já cansado do atendimento das outras, muitas das quais oferecem um serviço ruim de pós-venda e um atendimento de péssima qualidade para as reclamações.

Mas as pessoas que passaram horas debaixo de sol porque suas operadoras de telefonia celular não faziam o desbloqueio ou porque cobrariam pelo serviço que ali era oferecido de graça não aparentavam achar que sua vida estava ficando mais simples. A forma de tratar os clientes que vi nesse sábado de sol e calor em Bauru pareceu a mais pura mesmice. Tentar fazer uma reclamação e não ter com quem falar? Já vi situação extamente igual em outras operadoras. Será que vai mudar?

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

O neoliberalismo morreu

Com a aprovação do pacotão de US$ 850 bi que supostamente salvará o mercado financeiro do apocalipse, o congresso norte-americano carimba o fim da política de opção pelo (e promoção mundo afora do) livre mercado iniciada no começo dos anos 80 pelo governo Reagan.

Desta vez, não há, ou pelo menos ainda não apareceram, figuras à altura de John Maynard Keynes e Frank Delano Roosevelt para dar respectivamente consistência intelectual e direcionamento político firme à empreitada da volta do estado como motor da economia. Tampouco há uma guerra moralmente aceitável ou sabidamente necessária como a II Guerra Mundial para garantir a demanda por produção que tire a economia da letargia.

Irã e Venezuela são, da perspectiva geopolítica norte-americana, ratos que rugem, para usar uma expressão hoje corrente. Não são inimigos à altura do Japão imperial ou da Alemanha nazista. E ao contrário do período entre-guerras da década de 30, o orçamento militar dos EUA já é alto e o arsenal disponível, grande. Isso sem falar que ele tem sido de pouca utilidade contra o inimigo difuso e superestimado do terrorismo internacional. Não há, resumindo, um cenário de canalização de esforços que facilite a saída da crise como houve no fim dos anos 30.

A era Bush começou com a queda do World Trade Center, para a qual ele não estava preparado, e termina com a queda de Wall Street, para a qual ele tampouco estava pronto. Ela deixa como herança certa omissão quanto à fiscalização e regulamentação das práticas de mercado e uma conta para o contribuinte pagar pela má gestão ou má fé de alguns atores do mercado financeiro. E fica a impressão de que eles podem continuar operando da mesma forma, pois não serão purgados pelo mercado já que o governo vai pagar a conta.

Bush sairá de cena ainda meio zonzo, sem saber direito o que aconteceu em setembro de 2008, mas tendo ajudado a pregar – com suas ridículas aparições na TV implorando a aprovação do pacote de ajuda aos bancos – o caixão do neoliberalismo que reinou na América por quase trinta anos. Um triste fim para um político republicano, mas bem merecido para ele.

Trinta anos foi também o tempo que o modelo econômico oposto, o do estado grande, reinou desde o fim da Segunda Guerra até a ascensão de Margaret Thatcher, quando a situação da Inglaterra havia decaído a ponto de o ex-império chegar à humilhação de sondar o FMI para pedir uns trocados. Depois foi a vez de Ronald Reagan, que chegou à Casa Branca nos anos 80 com o mesmo discurso da colega britânica sobre o enxugamento do estado. Como tudo hoje anda meio acelerado, pode ser que a nova moda de estadão pós-crack de 2008 nem dure tanto. Só o tempo dirá.

Mas enquanto nuvens negras ainda pairam no céu, as bolsas desabam e a economia de livre mercado sai pela porta dos fundos, surge uma janela de oportunidade para o terrorismo. Até agora menos capaz de derrotar Washington do que as carteiras de derivativos fajutos de Wall Street, ele pode aparecer de novo em cena, pois o ideal seria atacar justamente num momento de fraqueza dos EUA. Os alvos potenciais que se cuidem.

Buracos em Cabul e em Wall Street

A “forcinha” que o governo (leia-se contribuinte) norte-americano vai dar para tirar bancos e seguradoras do buraco pode chegar no fim das contas a duas vezes o PIB do Brasil. Isso mostra que nem lá o livre mercado será levado às últimas conseqüências. O resultado é que ficará a impressão de que a irresponsabilidade de certos grupos financeiros é, em última análise, paga pelo cidadão. A percepção desse fato impedirá que alguns operadores do mercado aprendam uma dura lição e os incentiva a ser irresponsáveis de novo no futuro, quando a poeira da atual crise baixar.

É óbvio que o governo está de olho nas próximas eleições e não quer ser visto como aquele que deixou o circo pegar fogo, mas as decisões de hoje do governo quanto à economia podem influenciar o comportamento econômico e financeiro da sociedade americana nas próximas décadas. E não deve ser para melhor. Um mercado tutelado não aprende a se regular por conta própria. Mas, lá como cá, visão de longo prazo nem sempre é o que conta.

Essa crise também deixa claro que o pior inimigo dos chamados falcões de Washington, que reinaram no governo Bush, com seu apelo à hegemonia pela intimidação do poderio bélico e uma inspiração um tanto messiânica para liderar o mundo pela fé e pela força, não é a Al Qaeda. O grande adversário é sua própria falta de tato para a condução de políticas econômicas. As barbeiragens nas finanças estão se mostrando mais danosas à hegemonia norte-americana do que supostos terroristas enfiados em cavernas no Afeganistão.

Adolf x Michael

A Inglaterra ainda travava uma renhida guerra quando o garoto Michael Philip nasceu em 1943. Seu poderoso inimigo estava logo ao lado, no continente, liderado por um certo Adolf, que a essa altura já via maus augúrios para sua campanha bélica, que de fato se encerraria com derrota uma derrota incondicional dois anos depois.

Dez anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, "Rock around the clock", por muitos considerado o primeiro o rock n'roll a ser registrado em uma gravação, já podia ser ouvido nos EUA. E vinte anos após o fim da quimera de dominação da Europa à base da força de Hitler, o riff de Satisfaction, dos Rolling Stones, já embalava festas. E a imagem do rebolativo vocalista da banda podia ser vista na televisão que se popularizava mundo afora.

Que século foi esse, o vigésimo da era cristã, que nos deu, em um intervalo de tempo tão curto entre uns e outros, os discursos raivosos de Adolf Hitler e os rebolados de Michael Philip (também chamado de Mick) Jagger? Como figuras tão díspares entre si conseguiam empolgar multidões na Europa ocidental e no exterior?

Poderíamos dizer que foi porque, no século XX, o mundo despertou para a comunicação de massas. Surgiram e se popularizaram o rádio, o cinema e a televisão. Hitler utilizou-se dos dois primeiros. Os Stones, dos três. Poderíamos dizer que os governos e os grandes grupos financeiros e industriais souberam tirar proveito desses novos veículos para cooptar as massas. Mas não seria suficiente.

O que viria a fazer diferença no século da ciência e da barbárie em escala industrial seria o que fez diferença em tempos anteriores. Mais do que o século da comunicação em massa, o século passado foi o século daqueles que souberam tirar proveito do momento que viviam. E era o momento de quem sabia se comunicar com as massas. Comunicar-se no sentido mais terrível da palavra. No século XX, como em todos os outros, fez a diferença quem pôde e soube tirar proveito do momento.

Alguns argumentarão que foi o tempo dos que sabiam manipular as massas. Mas manipular seria a palavra certa? Não. As massas não se manipulam cegamente. Elas concordam. Há uma cumplicidade tácita da massa com quem teoricamente as seduz e/ou "engana". Comunicação é interação. Você precisa processar o que ouve e vê, e você também tem preconceitos e, eventualmente, idéias não muito nobres até então quietas, à espreita, nas sombras do seu íntimo.

O que é conviniente paras as massas? Discursos em tom enfático que aglutinam em frases de efeito, impressões antes dispersas que despertam ódio, fúria ou esperança? Músicas debochadas que servem não apenas para a diversão mecânica dos sentidos, mas também convidam à cumplicidade da rebeldia contra a odem estabelecida?

Hitler e os Stones na verdade não propuseram nada de novo. Apenas apresentaram ao público algo que já estava subjacente, mas que até então ninguém assumira abertamente em sua plenitude, e pagaram para ver. Quando Hitler subiu ao poder, o fascismo não precisava ser inventado, ele já existia, bastou levá-lo a extremos. Quando os Stones começaram a compor, o rock n'roll já existia, bastou deixá-lo mais debochado.

O ânimo para a guerra e para a sublevação contra as convenções sociais já existia. Ainda existe. Quem serão os Adolfs e Michaels do século XXI? O que há de novo no íntimo de cada sombra na multidão que os ouvirá?

domingo, 14 de setembro de 2008

Minimalismo cromático: fotos


Exemplos de fotos que se enquadram no conceito que chamei de minimalismo cromático.

Madeira River


Green and blue

Flickr

This is a test post from flickr, a fancy photo sharing thing.